A Tradição milenar da Igreja e o CV II são duas coisas contraditórias? O que devemos seguir e em qual deles confiar? Abordaremos a seguir a opinião da Igreja a respeito do assunto.
A Internet é um excelente meio de comunicação, se soubermos usá-la adequadamente. Caso contrário, pode virar um meio de dissimular notícias falsas e causar contendas, até mesmo quando se trata de questões da nossa fé católica.
Reservei este espaço intencionalmente, com o objetivo de esclarecer o que encontramos, com muita freqüência, em sites ditos católicos “tradicionalistas”, e que estão, infelizmente, confundindo e dividindo muitos cristãos dentro da nossa Igreja.
Você, internauta, com certeza já deve ter se deparado com muitos sites católicos, cada qual com uma linha de pensamento: um a favor do Concilio Vaticano II e o outro contra.
Muitos tradicionalistas estão negando um Concílio da Igreja, na qual dizem estar unidos e pertencer, com argumentos de que o CVII não foi válido por ter sido simplesmente pastoral (e não dogmático). Acusam a missa (chamada por eles de missa nova, a missa promulgada por Paulo VI) de ser sacrílega. Outros exageradamente chegam a dizer que a mesma é inválida, e tantas outras acusações. Utilizam de idéias que fogem à luz da verdade e obediência à Igreja. Poderia dizer que são verdadeiros ataques protestantes dentro da própria Igreja.
Ora, em quem acreditar? Quem fala a verdade?
Em meio a tanta guerra de egos, entre grupos e movimentos, entre alas conservadoras e pós-conciliares, não nos deixemos enganar por aqueles que não obedecem à Voz da Igreja. Veja o que diz o nosso Papa Bento XVI:
“Assim podemos hoje, com gratidão, dirigir o nosso olhar ao Concílio Vaticano II: se o lemos e recebemos guiados por uma justa hermenêutica, el e po de ser e tornar-se cada vez mais uma grande força para a sempre necessária renovação da Igreja. O Concílio Vaticano II, com o Decreto sobre a liberdade religiosa, reconhecendo e fazendo seu um princípio essencial do Estado moderno, recuperou novamente opatrimônio mais profundo da Igreja. Ela p ode ser consciente de encontrar-se assim em plena sintonia com o ensinamento do próprio Jesus (cf. Mt 22, 21) como também com a Igreja dos mártires, com os mártires de todos os tempos.”
Essas palavras do Papa deixam claro, mais uma vez, a fundamental importância do Concílio Vaticano II para a Igreja. João Paulo II já tinha se referido a ele como “a primavera da Igreja”. Assim, é preciso calar de vez as vozes dissonantes e muito prejudiciais à Igreja que se levantam contra o Concílio. São maus católicos, em comunhão imperfeita com a Igreja, os que se prestam a esse triste serviço.
Mas então porque os tradicionalistas não aceitam o Concilio Vaticano II, mesmo depois de João Paulo II e Bento XVI se proclamarem a favor dele? Seriam eles mais importantes ou mais sábios que os sucessores de Pedro? O grande problema é que os tradicionalistas possuem um conceito de tradição diferente do seu verdadeiro significado.
As mudanças dentro da Igreja e a reforma litúrgica, segundo eles, romperam com a Tradição, classificando-o como um concilio inválido. Portanto, o raciocínio deles seria que o correto está naquilo que se procedeu anteriormente ao Concílio Vaticano II, como se o Espírito Santo não tivesse assistido à Igreja duramente o mesmo. Mas vejamos o que diz o Papa Bento XVI e o Concílio de Trento (que os tradicionalistas respeitam) a respeito da verdadeira Tradição:
“A Tradição apostólica da Igreja consiste nesta transmissão dos bens da salvação, que faz da comunidade cristã a atualização permanente, na força do Espírito, da comunhão originária. Ela é chamada assim porque surgiu do testemunho dos Apóstolos e da comunidade dos discípulos no tempo das origens, foi entregue sob a guia do Espírito Santo nos textos do Novo Testamento e na vida sacramental, na vida da fé, e a ela, a esta tradição, que é toda a realidade sempre atual do dom de Jesus, a Igreja refere-se continuamente como ao seu fundamento e à sua norma através da sucessão ininterrupta do mistério apostólico.” (Papa Bento XVI, 26 abril de 2006 – audiência geral).
O Concílio de Trento, na sua XXI Sessão (16/07/1562), capítulo II, deixava bem claro este princípio: a Igreja sempre tem poder de estabelecer ou mudar aquilo que segundo as circunstâncias, tempos e lugares, julgue conveniente à utilidade dos fiéis ou à veneração dos mesmos sacramentos, contanto que fique salvo o essencial deles (salva illorum substantia).
Acaso não foi isso que o Concílio Vaticano II fez com relação à reforma litúrgica?! Além do mais, os que pretendem colocar a chamada Missa tridentina como única possibilidade, não estão, por acaso, excluindo todos os demais ritos católicos?
A Tradição – continua Bento XVI – “não é a simples transmissão material de quanto foi doado no início aos Apóstolos, mas a presença eficaz do Senhor Jesus, crucificado e ressuscitado, que acompanha e guia no Espírito a comunidade por ele reunida.”
Relaciona, portanto, Tradição, historicidade da Igreja e comunhão: “A Tradição é a comunhão dos fiéis à volta dos legítimos Pastores no decorrer da história, uma comunhão que o Espírito Santo alimenta garantindo a ligação entre a experiência da fé apostólica, vivida na originária comunidade dos discípulos, e a experiência atual de Cristo na sua Igreja. Tradição não é transmissão de coisas ou palavras, uma coleção de coisas mortas. A Tradição é o rio vivo que nos liga às origens, o rio vivo no qual as origens estão sempre presentes. O grande rio que nos conduz ao porto da eternidade.”
O Papa João Paulo II em forma de “Motu Proprio”, Ecclesia Dei adflicta, de 02 de julho de 1988, ainda questiona o ambiente tradicionalista que se opõe à obediência à Igreja, no qual se maneja uma noção incompleta e contraditória de Tradição:
“Incompleta, porque não tem em suficiente consideração o caráter vivo da Tradição. Mas é, sobretudo, contraditória uma noção de Tradição que se opõe ao Magistério universal da Igreja, do qual é detentor o Bispo de Roma e o Colégio dos Bispos. Não se pode permanecer fiel à Tradição rompendo o vínculo eclesial com aquele a quem o próprio Cristo, na pessoa do Apóstolo Pedro, confiou o ministério da unidade na sua Igreja”.
Portanto, digo a vocês leitores desse artigo, que se existem discrepâncias e erros da parte de alguns leigos e/ou padres no cumprimento das suas funções dentro da Igreja, deve-se ao não cumprimento ou má interpretação do Concílio Vaticano II, e não por culpa deste. Infelizmente, observamos nos dias de hoje muitos abusos litúrgicos, sincretismo religioso, incorporações de ritos durante as celebrações eucarísticas e erros doutrinários difundidos por alguns padres mal orientados. Esses fatos devem ser combatidos com veemência, porém não se deve culpar o CVII, inspirado pelo Espírito Santo. Não aceitá-lo seria o mesmo que não estar em comunhão com a Igreja.
Ao lerem qualquer assunto contra o Concílio Vaticano II ou contra a missa “nova”, fiquem em paz, não tenham medo de não estarem no caminho certo. Fiquem seguros que não erramos por seguir a nossa Igreja e nosso Papa!
Sejamos obedientes à Igreja. Obediência acima de tudo! Fiquemos com a Igreja!
E digo isso com base nas palavras de Santo Agostinho: “Prefiro errar com a Igreja, que acertar sem ela”. A base de tudo é a confiança e a obediência. Que isso valha para todos nós!
Fonte: www.veniteadoremus.com
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