terça-feira, 19 de abril de 2011

CONCÍLIO VATICANO II x TRADICIONALISTAS – EM QUEM CONFIAR?

A Tradição milenar da Igreja e o CV II são duas coisas contraditórias? O que devemos seguir e em qual deles confiar? Abordaremos a seguir a opinião da Igreja a respeito do assunto.

A Internet é um excelente meio de comunicação, se soubermos usá-la adequadamente. Caso contrário, pode virar um meio de dissimular notícias falsas e causar contendas, até mesmo quando se trata de questões da nossa fé católica.

Reservei este espaço intencionalmente, com o objetivo de esclarecer o que encontramos, com muita freqüência, em sites ditos católicos “tradicionalistas”, e que estão, infelizmente, confundindo e dividindo muitos cristãos dentro da nossa Igreja.

Você, internauta, com certeza já deve ter se deparado com muitos sites católicos, cada qual com uma linha de pensamento: um a favor do Concilio Vaticano II e o outro contra.

Muitos tradicionalistas estão negando um Concílio da Igreja, na qual dizem estar unidos e pertencer, com argumentos de que o CVII não foi válido por ter sido simplesmente pastoral (e não dogmático). Acusam a missa (chamada por eles de missa nova, a missa promulgada por Paulo VI) de ser sacrílega. Outros exageradamente chegam a dizer que a mesma é inválida, e tantas outras acusações. Utilizam de idéias que fogem à luz da verdade e obediência à Igreja. Poderia dizer que são verdadeiros ataques protestantes dentro da própria Igreja.

Ora, em quem acreditar? Quem fala a verdade?

Em meio a tanta guerra de egos, entre grupos e movimentos, entre alas conservadoras e pós-conciliares, não nos deixemos enganar por aqueles que não obedecem à Voz da Igreja. Veja o que diz o nosso Papa Bento XVI:

“Assim podemos hoje, com gratidão, dirigir o nosso olhar ao Concílio Vaticano II: se o lemos e recebemos guiados por uma justa hermenêutica, el e po de ser e tornar-se cada vez mais uma grande força para a sempre necessária renovação da Igreja. O Concílio Vaticano II, com o Decreto sobre a liberdade religiosa, reconhecendo e fazendo seu um princípio essencial do Estado moderno, recuperou novamente opatrimônio mais profundo da Igreja. Ela p ode ser consciente de encontrar-se assim em plena sintonia com o ensinamento do próprio Jesus (cf. Mt 22, 21) como também com a Igreja dos mártires, com os mártires de todos os tempos.”

Sabemos que o Concílio teve um caráter mais pastoral do que doutrinário, e não pronunciou “sentenças dogmáticas extraordinárias”, mas, como ressaltou o Papa, deixa-nos o “patrimônio da doutrina” da Igreja, “ensinamento autorizado” do magistério da Igreja.

Bento XVI ao celebrar no dia da Imaculada Conceição os quarenta anos do encerramento do Concílio Vaticano II, em 08 dez 2005, o definiu como «o maior acontecimento eclesial do século XX», e agradeceu a Deus pelo Concílio. O Papa João Paulo II não se cansava de agradecer a Deus pelo Concilio; na Celebração eucarística na solenidade da Imaculada Conceição, em 15 out 1995, ele disse:

“Graças ao sopro do Espírito Santo, o Concílio lançou as bases de uma nova primavera da Igreja. Ele não marcou a ruptura com o passado, mas soube valorizar o patrimônio da inteira tradição eclesial, para orientar os fiéis na resposta aos desafios da nossa época. À distância de trinta anos, é mais do que nunca necessário retornar àquele momento de graça. Já no Sínodo dos Bispos de 1985 [sobre o Concílio] foi posto um análogo interrogativo. Ele continua válido ainda hoje, e obriga antes de mais a reler o Concílio, para dele recolher integralmente as indicações e assimilar o seu espírito...” (L’Osservatore Romano, 15/10/95)

Essas palavras do Papa deixam claro, mais uma vez, a fundamental importância do Concílio Vaticano II para a Igreja. João Paulo II já tinha se referido a ele como “a primavera da Igreja”. Assim, é preciso calar de vez as vozes dissonantes e muito prejudiciais à Igreja que se levantam contra o Concílio. São maus católicos, em comunhão imperfeita com a Igreja, os que se prestam a esse triste serviço.

Mas então porque os tradicionalistas não aceitam o Concilio Vaticano II, mesmo depois de João Paulo II e Bento XVI se proclamarem a favor dele? Seriam eles mais importantes ou mais sábios que os sucessores de Pedro? O grande problema é que os tradicionalistas possuem um conceito de tradição diferente do seu verdadeiro significado.

As mudanças dentro da Igreja e a reforma litúrgica, segundo eles, romperam com a Tradição, classificando-o como um concilio inválido. Portanto, o raciocínio deles seria que o correto está naquilo que se procedeu anteriormente ao Concílio Vaticano II, como se o Espírito Santo não tivesse assistido à Igreja duramente o mesmo. Mas vejamos o que diz o Papa Bento XVI e o Concílio de Trento (que os tradicionalistas respeitam) a respeito da verdadeira Tradição:

“A Tradição apostólica da Igreja consiste nesta transmissão dos bens da salvação, que faz da comunidade cristã a atualização permanente, na força do Espírito, da comunhão originária. Ela é chamada assim porque surgiu do testemunho dos Apóstolos e da comunidade dos discípulos no tempo das origens, foi entregue sob a guia do Espírito Santo nos textos do Novo Testamento e na vida sacramental, na vida da fé, e a ela, a esta tradição, que é toda a realidade sempre atual do dom de Jesus, a Igreja refere-se continuamente como ao seu fundamento e à sua norma através da sucessão ininterrupta do mistério apostólico.” (Papa Bento XVI, 26 abril de 2006 – audiência geral).

O Concílio de Trento, na sua XXI Sessão (16/07/1562), capítulo II, deixava bem claro este princípio: a Igreja sempre tem poder de estabelecer ou mudar aquilo que segundo as circunstâncias, tempos e lugares, julgue conveniente à utilidade dos fiéis ou à veneração dos mesmos sacramentos, contanto que fique salvo o essencial deles (salva illorum substantia).

Acaso não foi isso que o Concílio Vaticano II fez com relação à reforma litúrgica?! Além do mais, os que pretendem colocar a chamada Missa tridentina como única possibilidade, não estão, por acaso, excluindo todos os demais ritos católicos?

A Tradição – continua Bento XVI – “não é a simples transmissão material de quanto foi doado no início aos Apóstolos, mas a presença eficaz do Senhor Jesus, crucificado e ressuscitado, que acompanha e guia no Espírito a comunidade por ele reunida.”

Relaciona, portanto, Tradição, historicidade da Igreja e comunhão: “A Tradição é a comunhão dos fiéis à volta dos legítimos Pastores no decorrer da história, uma comunhão que o Espírito Santo alimenta garantindo a ligação entre a experiência da fé apostólica, vivida na originária comunidade dos discípulos, e a experiência atual de Cristo na sua Igreja. Tradição não é transmissão de coisas ou palavras, uma coleção de coisas mortas. A Tradição é o rio vivo que nos liga às origens, o rio vivo no qual as origens estão sempre presentes. O grande rio que nos conduz ao porto da eternidade.”

O Papa João Paulo II em forma de “Motu Proprio”, Ecclesia Dei adflicta, de 02 de julho de 1988, ainda questiona o ambiente tradicionalista que se opõe à obediência à Igreja, no qual se maneja uma noção incompleta e contraditória de Tradição:

“Incompleta, porque não tem em suficiente consideração o caráter vivo da Tradição. Mas é, sobretudo, contraditória uma noção de Tradição que se opõe ao Magistério universal da Igreja, do qual é detentor o Bispo de Roma e o Colégio dos Bispos. Não se pode permanecer fiel à Tradição rompendo o vínculo eclesial com aquele a quem o próprio Cristo, na pessoa do Apóstolo Pedro, confiou o ministério da unidade na sua Igreja”.

Portanto, digo a vocês leitores desse artigo, que se existem discrepâncias e erros da parte de alguns leigos e/ou padres no cumprimento das suas funções dentro da Igreja, deve-se ao não cumprimento ou má interpretação do Concílio Vaticano II, e não por culpa deste. Infelizmente, observamos nos dias de hoje muitos abusos litúrgicos, sincretismo religioso, incorporações de ritos durante as celebrações eucarísticas e erros doutrinários difundidos por alguns padres mal orientados. Esses fatos devem ser combatidos com veemência, porém não se deve culpar o CVII, inspirado pelo Espírito Santo. Não aceitá-lo seria o mesmo que não estar em comunhão com a Igreja.

Ao lerem qualquer assunto contra o Concílio Vaticano II ou contra a missa “nova”, fiquem em paz, não tenham medo de não estarem no caminho certo. Fiquem seguros que não erramos por seguir a nossa Igreja e nosso Papa!

Sejamos obedientes à Igreja. Obediência acima de tudo! Fiquemos com a Igreja!

E digo isso com base nas palavras de Santo Agostinho: “Prefiro errar com a Igreja, que acertar sem ela”. A base de tudo é a confiança e a obediência. Que isso valha para todos nós!

Fonte: www.veniteadoremus.com

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