segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Manifestação de apoio aos bispos do Uruguai - Aborto Não!


Padre Paulo Ricardo convida os católicos brasileiros a manifestarem seu apoio aos valorosos bispos do Uruguai que lutam contra a aprovação do aborto em seu país.
Assista o vídeo abaixo




Conferencia episcopal de Uruguay
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Diócesis de Salto, Obispo Mons. Pablo Jaime Galimberti Di Vietri
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Diócesis de Tacurembó, Obispo Mons. Julio César Bonino
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Diócesis de Melo, Obispo Mons. Heriberto Bodeant
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Diócesis de Minas, obispo Mons. Jaime Rafael Fuentes
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Diócesis de Maldonado, Obispo Mons. Rodolfo Wirz
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Canelones, Obispo Mons. Alberto Sanguinetti Montero
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Diócesis de Florida, Obispo Mons. Martín Pérez Scremini
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Arquidiócesis de Montevideo, Obispo Mons. Nicolas Domingo Cotugno Fanizzi
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Diócesis de San Jose Mayo, Obispo Mons. Arturo Eduardo Fajardo Bustamente
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Diócesis de Mercedes, Obispo Mons. Carlos María Collazzi
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sábado, 28 de janeiro de 2012

Catequese de Bento XVI sobre São Tomás de Aquino - Parte 1



Por Papa Bento XVI

Queridos irmãos e irmãs,

após algumas Catequeses sobre o sacerdócio e minhas últimas viagens, retornamos hoje ao nosso tema principal, à meditação de alguns grandes pensadores da Idade Média. Tínhamos visto por último a grande figura de São Boaventura, franciscano, e hoje desejo falar daquele que a Igreja chama de Doctor communis: São Tomás de Aquino. O meu venerado Predecessor, o Papa João Paulo II, na sua Encíclica Fides et Ratio, recordou que São Tomás "foi sempre proposto pela Igreja como mestre de pensamento e modelo do modo correto de se fazer teologia" (n. 43). Não surpreende que, após Santo Agostinho, entre os escritores eclesiásticos mencionados no Catecismo da Igreja Católica, São Tomás seja citado mais que qualquer outro, por não menos de sessenta vezes! Ele também é conhecido como Doctor Angelicus, talvez por suas virtudes, em particular a sublimidade do pensamento e a pureza da vida.

Tomás nasceu entre 1224 e 1225 no castelo que sua família, nobre e rica, possuía em Roccasecca, próximo a Aquino, perto da célebre abadia de Montecassino, para onde foi enviado pelos pais para receber os primeiros elementos de sua instrução. Alguns anos mais tarde ele transferiu-se para a capital do Reino da Sicília, Nápoles, onde Federico II tinha fundado uma prestigiada Universidade. Ali era ensinado, sem as limitações vigentes em outros lugares, o pensamento do filósofo grego Aristóteles, ao qual o jovem Tomás foi introduzido, e do qual imediatamente percebeu o grande valor. Mas, sobretudo naqueles anos passados em Nápoles, nasceu sua vocação dominicana. Tomás foi de fato atraído pelo ideal da Ordem fundada há então pouco tempo por São Domingos. No entanto, quando revestiu-se do hábito dominicano, sua família se opôs a esta opção, e ele foi forçado a deixar o convento e passar algum tempo com a família.

Em 1245, já adulto, poderia retomar o seu caminho de resposta ao chamado de Deus. Foi enviado para Paris para estudar teologia, sob a orientação de um outro santo, Alberto Magno, sobre o qual falei recentemente. Alberto e Tomás tiveram uma amizade profunda e verdadeira e aprenderam a se estimar e querer bem, ao ponto de Alberto desejar que seu discípulo o acompanhasse a Colônia, para onde havia sido enviado pelos superiores da Ordem para fundar um studio teológico. Tomás, em seguida, tem contato com todas as obras de Aristóteles e seus comentadores árabes, que Alberto apresentava e explicava.

Naquele período, a cultura do mundo latino era profundamente estimulada pelo encontro com as obras de Aristóteles, que haviam permanecido desconhecidas por muito tempo. Tratava-se de escritos sobre a natureza do conhecimento, sobre ciências naturais, sobre metafísica, ética e alma, cheio de informações e intuições que pareciam válidas e convincentes. Era toda uma visão completa do mundo desenvolvida sem e antes de Cristo, através da pura razão, e parecia impor-se à razão como "a" visão mesma; era, portanto, um incrível fascínio para os jovens verem e conhecerem essa filosofia. Muitos saudaram com entusiasmo, também com entusiasmo acrítico, a essa enorme riqueza do saber antigo, que parecia poder renovar vantajosamente a cultura, abrir completamente novos horizontes. Outros, porém, temiam que o pensamento pagão de Aristóteles se opusesse à fé cristã, e recusavam-se a estudá-lo. Encontraram-se duas culturas: a cultura pré-cristã de Aristóteles, com sua racionalidade radical, e a clássica cultura cristã. Certos ambientes eram levados a rejeitar Aristóteles também pelo fato de que a apresentação de tal filósofo havia sido feita pelos comentadores árabes Avicenna e Averroè. Na verdade, foram eles que transmitiram ao mundo latino a filosofia aristotélica. Por exemplo, esses comentadores haviam ensinado que os homens não dispõem de uma inteligência pessoal, mas que existe apenas um único intelecto universal, uma substância espiritual comum a todos, que opera em todos como "única": então uma despersonalização do homem. Um outro ponto discutível veiculado pelos comentadores árabes era aquele segundo o qual o mundo é eterno como Deus. Desencadearam-se compreensivelmente disputas intermináveis no mundo universitário e eclesiástico. A filosofia aristotélica foi-se difundindo até mesmo entre as pessoas comuns.

Tomás de Aquino, na escola de Alberto Magno, teve uma importância fundamental para a história da filosofia e da teologia, diria para a história da cultura: estudou minuciosamente Aristóteles e seus intérpretes, procurando novas traduções latinas dos textos originais em grego. Assim, não apoiava-se mais somente nos comentadores árabes, mas podia ler pessoalmente os textos originais, e comentou grande parte das obras de Aristóteles, distinguindo aquilo que era válido daquilo que era dúbio ou devia ser refutado como um todo, mostrando a consonância com os dados da Revelação cristã e utilizando larga e agudamente o pensamento aristotélico na exposição dos escritos teológicos que compôs. Em definitivo, Tomás de Aquino mostrou que entre a fé cristã e a razão subsiste uma harmonia natural. E essa foi a grande obra de Tomás, que naquele momento de confronto entre duas culturas - aquele momento no qual parecia que a fé devia render-se diante da razão - revelou que elas são indissociáveis, que quando aparecia razão não compatível com a fé não era razão, e que quando aparecia fé não era fé de oposta à verdadeira racionalidade; assim ele criou uma nova síntese, que formou a cultura dos séculos seguintes.

Pelos seus excelentes dons intelectuais, Tomás foi chamado a Paris como professor de teologia na cátedra dominicana. Aqui iniciou também a sua produção literária, que continuou até sua morte, e que foi prodigiosa: comentários sobre a Sagrada Escritura, porque o professor de teologia era sobretudo intérprete da Escritura, comentários sobre os escritos de Aristóteles, obras sistemáticas poderosas, entre as quais a sobressaliente Summa Theologiae, tratados e discursos sobre vários temas. Para a composição de seus escritos, foi assistido por alguns secretários, entre os quais o irmão Reginaldo de Piperno, que o seguiu fielmente e ao qual foi ligado por uma amizade fraterna e sincera, caracterizada por uma grande confidência e confiança. Essa é uma característica dos santos: cultivam a amizade, porque é uma das manifestações mais nobres do coração humano e tem em si algo de divino, como Tomás mesmo explicou em algumas quaestiones da Summa Theologiae, na qual ele escreve: "A caridade é a amizade do homem com Deus em primeiro lugar, e com os seres que a Ele pertencem" (II, q. 23, a.1).

Ele não permaneceu muito tempo em Paris. Em 1259, participou do Capítulo Geral dos Dominicanos em Valenciennes, onde foi membro de uma comissão que estabilizou o programa de estudos na Ordem. De 1261 a 1265, então, Tomás foi para Orvieto. O Papa Urbano IV, que nutria por ele uma grande estima, lhe confiou a composição dos textos litúrgicos para a festa de Corpus Domini [Corpus Christi], que celebraremos amanhã, instituída na sequência do milagre eucarístico de Bolsena. Tomás tinha uma alma absolutamente eucarística. Os belíssimos hinos que a liturgia da Igreja canta para celebrar o mistério da presença real do Corpo e do Sangue do Senhor na Eucaristia são atribuídos à sua fé e conhecimento teológico. De 1265 até 1268, Tomás residiu em Roma, onde, provavelmente, dirigia um Studium, isto é, uma Casa de Estudos da Ordem, e onde começou a escrever sua Summa Theologiae (cf. Jean-Pierre Torrell,Tommaso d’Aquino. L’uomo e il teologo, Casale Monf., 1994, pp. 118-184).

Em 1269 foi re-enviado a Paris para um segundo ciclo de ensinos. Os estudantes - pode-se entender - eram entusiasmados por suas aulas. Um de seus ex-aluno declarou que uma grandíssima multidão de estudantes seguia os cursos de Tomás, de modo que as salas de aula mal podiam abrigá-los, e acrescentava, com uma anotação pessoal, que "ouvi-lo era para si uma felicidade profunda". A interpretação de Aristóteles dada por Tomás não era aceita por todos, mas mesmo os seus adversários no campo acadêmico, como Goffredo de Fontaines, por exemplo, admitiam que a doutrina do irmão Tomás era superior a outras pela utilidade e valor e servia como corretivo a de todas os outros doutores. Talvez também para protegê-lo das vivazes discussões de então, seus superiores enviaram-lhe novamente a Nápoles, para estar à disposição do rei Carlo I, que desejava reorganizar os estudos universitários.

Além do estudo e do ensino, Tomás dedicou-se também a pregar ao povo. E também o povo ia de bom grado ouvi-lo. Diria que é realmente uma grande graça quando os teólogos sabem falar com simplicidade e fervor aos fiéis. O ministério da pregação, além disso, ajuda os próprios estudiosos de teologia a um são realismo pastoral, e reforça com vivazes estímulos a própria pesquisa.

Os últimos meses da vida terrena de Tomás foram circundados por uma atmosfera especial, diria que misteriosa. Em dezembro de 1273, chamou seu amigo e secretário Reginaldo para comunicá-lo da decisão de interromper todo o trabalho, porque, durante a celebração da Missa, havia entendido, após uma revelação sobrenatural, que tudo o quanto havia escrito até então era apenas "um monte de palha". É um episódio misterioso, que nos ajuda a compreender não somente a humildade pessoal de Tomás, mas também o fato de que tudo o que possamos pensar e dizer sobre a fé, por mais elevado e puro, é infinitamente superado pela grandeza e beleza de Deus, que nos será revelada em plenitude no Paraíso. Alguns meses depois, sempre mais absorto em uma pensativa meditação, Tomás morre enquanto estava em viagem a Lyon, aonde estava indo para participar do Concílio Ecumênico convocado pelo Papa Gregório X. Morreu na Abadia cisterciense de Fossanova, após ter recebido o Viático com sentimentos de grande piedade.

A vida e o ensinamento de São Tomás de Aquino poderia ser resumida através de um episódio transmitido pelos antigos biógrafos. Enquanto o Santo, como de costume, estava em oração diante do Crucifixo, no início da manhã na Capela de São Nicolas, em Nápoles, Domenico da Caserta, o sacristão da igreja, ouviu desenvolver-se um diálogo. Tomás perguntava, preocupado,se o que ele havia escrito sobre os mistérios da fé cristã estava certo. E o Crucifixo responde: "Tu tens falado bem de mim, Tomás. Qual será a tua recompensa?". E a resposta que Tomás ofereceu é aquela que também nós, amigos e discípulos de Jesus, desejamos sempre dar: "Nada além de Ti, Senhor!" (Ibid., p. 320).

Catequese de Bento XVI sobre São Tomás de Aquino - Parte 2


Por Bento XVI

Estimados irmãos e irmãs!

Hoje gostaria de continuar a apresentação de São Tomás de Aquino, um teólogo de valor tão grande que o estudo do seu pensamento foi explicitamente recomendado pelo Concílio Vaticano II em dois documentos, o decreto Optatam totius, sobre a formação para o sacerdócio, e a declaração Gravissimum educationis, que fala a respeito da educação cristã. De resto, já em 1880 o Papa Leão XIII, seu grande apreciador e promotor de estudos tomistas, quis declarar São Tomás Padroeiro das Escolas e das Universidades católicas.

O motivo principal deste apreço reside não só no conteúdo do seu ensinamento, mas também no método por ele adoptado, sobretudo a sua nova síntese e distinção entre filosofia e teologia. Os Padres da Igreja encontravam-se confrontados com várias filosofias de tipo platónico, nas quais se apresentava uma visão completa do mundo e da vida, incluindo a questão de Deus e da religião. No confronto com estas filosofias, eles mesmos tinham elaborado uma visão completa da realidade, começando a partir da fé e utilizando elementos do platonismo, para responder às interrogações essenciais dos homens. Esta visão, assente na revelação bíblica e elaborada com um platonismo correcto à luz da fé, era por eles denominada a "nossa filosofia". Portanto, a palavra "filosofia" não era expressão de um sistema puramente racional e, como tal, distinto da fé, mas indicava uma visão global da realidade, construída à luz da fé, mas tornada própria e pensada pela razão; uma visão que, sem dúvida, ia além das capacidades próprias da razão mas que, como tal, era também satisfatória para ela. Para São Tomás de Aquino, o encontro com a filosofia pré-cristã de Aristóteles (falecido por volta de 322 a.c.) abria uma nova perspectiva. A filosofia aristotélica era, obviamente, uma filosofia elaborada sem conhecimento do Antigo e do Novo Testamento, uma explicação do mundo sem revelação, unicamente pela razão. E esta racionalidade consequente era convincente. Assim, a antiga forma da "nossa filosofia" dos Padres já não funcionava. A relação entre filosofia e teologia, entre fé e razão, devia ser reconsiderada. Existia uma "filosofia" completa e convincente em si mesma, uma racionalidade precedente à fé, e depois a "teologia", um pensar com a fé e na fé. A questão urgente era esta: o mundo da racionalidade, a filosofia pensada sem Cristo e o mundo da fé são compatíveis? Ou então excluem-se? Não faltavam elementos que afirmavam a incompatibilidade entre os dois mundos, mas São Tomás estava firmemente convencido da sua compatibilidade aliás, que a filosofia elaborada sem o conhecimento de Cristo praticamente esperava a luz de Jesus para ser completa. Esta foi a grande "surpresa" de São Tomás, que determinou o seu caminho de pensador. Mostrar esta independência de filosofia e teologia e, ao mesmo tempo, a sua relacionalidade recíproca, foi a missão histórica do grande mestre. E assim compreende-se porque no século XIX, quando se declarava fortemente a incompatibilidade entre razão moderna e fé, o Papa Leão XIII indicou São Tomás como guia no diálogo entre uma e outra. No seu trabalho teológico, São Tomás supõe e concretiza esta relacionalidade. A fé consolida, integra e ilumina o património de verdade que a razão humana adquire. A confiança que São Tomás concede a estes dois instrumentos do conhecimento – a fé e a razão – pode ser reconduzida à convicção de que ambas derivam da única nascente de toda a verdade, o Logos divino que age tanto no âmbito da criação, como no contexto da redenção.

Além do acordo entre razão e fé, deve-se reconhecer, por outro lado, que elas se valem de procedimentos cognoscitivos diferentes. A razão acolhe uma verdade em virtude da sua evidência intrínseca, mediata ou imediata; a fé, ao contrário, aceita uma verdade com base na autoridade da Palavra de Deus que se revela. São Tomás escreve no início da sua Summa Theologiae: "É dúplice a ordem das ciências; algumas procedem de princípios conhecidos mediante a luz natural da razão, como a matemática, a geometria e semelhantes; outras procedem de princípios conhecidos através de uma ciência superior: como a perspectiva procede de princípios conhecidos mediante a geometria, e a música de princípios conhecidos através da matemática. E deste modo, a doutrina sagrada (ou seja, a teologia) é ciência porque procede dos princípios conhecidos através da luz de uma ciência superior, isto é, a ciência de Deus e dos Santos" (I, q. 1, a. 2).

Esta distinção assegura a autonomia, tanto das ciências humanas como das ciências teológicas. Porém, ela não equivale à separação, mas implica sobretudo uma colaboração recíproca e vantajosa. Com efeito, a fé protege a razão de toda a tentação de desconfiança nas próprias capacidades, estimula-a a abrir-se a horizontes mais vastos, mantém viva nela a busca dos fundamentos e, quando a própria razão se aplica à esfera sobrenatural da relação entre Deus e homem, enriquece o seu trabalho. Segundo São Tomás, por exemplo, a razão humana pode chegar indubitavelmente à afirmação da existência de um único Deus, mas só a fé, que acolhe a Revelação divina, é capaz de haurir do mistério do Amor de Deus Uno e Trino.

Por outro lado, não é apenas a fé que ajuda a razão. Também a razão, com os seus meios, pode fazer algo de importante para a fé, prestando-lhe um tríplice serviço, que São Tomás resume no proémio do seu comentário ao De Trinitate, de Boécio: "Demonstrar os fundamentos da fé; explicar mediante semelhanças as verdades da fé; rejeitar as objecções que se levantam contra a fé" (q. 2, a. 2). Toda a história da teologia é, no fundo, o exercício deste compromisso da inteligência, que mostra a inteligibilidade da fé, a sua articulação e harmonia interna, o seu bom senso e a sua capacidade de promover o bem do homem. A exactidão dos raciocínios teológicos e o seu significado cognoscitivo real fundamentam-se no valor da linguagem teológica que, segundo São Tomás, é principalmente uma linguagem analógica. A distância entre Deus, o Criador e o ser das suas criaturas é infinita; a dessemelhança é sempre maior do que a semelhança (cf. DS 806). Não obstante, em toda a diferença entre Criador e criatura, existe uma analogia entre o ser criado e o ser do Criador, que nos permite falar sobre Deus com palavras humanas.

São Tomás fundou a doutrina da analogia sobre argumentações puramente filosóficas, e também sobre o facto de que, com a Revelação, foi o próprio Deus quem nos falou e, portanto, nos autorizou a falar dele. Considero importante evocar esta doutrina. Com efeito, ela ajuda-nos a superar algumas objecções do ateísmo contemporâneo, o qual nega que a linguagem religiosa possui um significado objectivo, e afirma ao contrário que só tem um valor subjectivo, ou simplesmente emotivo. Esta objecção deriva do facto que o pensamento positivista está convencido de que o homem não conhece o ser, mas somente as funções experimentáveis da realidade. Com São Tomás e com a grande tradição filosófica, estamos persuadidos de que, na realidade, o homem não conhece apenas as funções, objecto das ciências naturais, mas conhece algo do próprio ser por exemplo, conhece a pessoa, o Tu do outro, e não apenas o aspecto físico e biológico do seu ser.

À luz deste ensinamento de São Tomás, a teologia afirma que, por mais limitada que seja, a linguagem religiosa é dotada de sentido – porque nos referimos ao ser – como uma seta que se dirige rumo à realidade que ela significa. Este acordo fundamental entre razão humana e fé cristã entrevê-se num outro princípio basilar do pensamento do Aquinate: a Graça divina não anula, mas supõe e aperfeiçoa a natureza humana. Com efeito, esta última, mesmo depois do pecado, não é completamente corrupta, mas ferida e debilitada. A Graça, concedida por Deus e comunicada através do Mistério do Verbo encarnado, é uma dádiva absolutamente gratuita com que a natureza é curada, fortalecida e ajudada a perseguir o desejo inato no coração de cada homem e de cada mulher: a felicidade. Todas as faculdades do ser humano são purificadas, transformadas e elevadas pela Graça divina.

Reconhece-se uma aplicação importante desta relação entre a natureza e a Graça na teologia moral de São Tomás de Aquino, que é de grande actualidade. No centro do seu ensinamento neste campo, ele insere a lei nova, que é a lei do Espírito Santo. Com um olhar profundamente evangélico, insiste sobre o facto de que esta lei é a Graça do Espírito Santo, concedida a todos aqueles que acreditam em Cristo. A tal Graça une-se o ensinamento escrito e oral das verdades doutrinais e morais, transmitido pela Igreja. Sublinhando o papel fundamental, na vida moral, da acção do Espírito Santo, da Graça, da qual brotam as virtudes teologais e morais, São Tomás faz compreender que cada cristão pode alcançar as elevadas perspectivas do "Sermão da Montanha", se viver uma autêntica relação de fé em Cristo, se se abrir à acção do seu Espírito Santo. Porém – acrescenta o Aquinate – "embora a Graça seja mais eficaz do que a natureza, todavia a natureza é mais essencial para o homem" (Summa Theologiae, I-II, q. 94, a. 6, ad 2), pelo que, na perspectiva moral cristã existe um espaço para a razão, que é capaz de discernir a lei moral natural. A razão pode reconhecê-la, considerando o que é bom fazer e o que é bom evitar, para a consecução daquela felicidade que está a peito de cada um, e que impõe uma responsabilidade para com os demais e, portanto, a busca do bem comum. Em síntese, as virtudes do homem, teologais e morais, estão arraigadas na natureza humana. A Graça divina acompanha, sustém e incentiva o compromisso ético mas, por si só, segundo São Tomás, todos os homens, crentes e não-crentes, são chamados a reconhecer as exigências da natureza humana e a inspirar-se nela na formulação das leis positivas, ou seja, daquelas que são emanadas pelas autoridades civis e políticas para regular a convivência humana.

Quando a lei natural e a responsabilidade que ela implica são negadas, abre-se dramaticamente o caminho ao relativismo ético no plano individual e ao totalitarismo do Estado a nível político. A defesa dos direitos universais do homem e a afirmação do valor absoluto da dignidade da pessoa postulam um fundamento. Não é precisamente a lei natural, este fundamento com os valores não negociáveis que ela indica? O Venerável João Paulo II escrevia na sua Encíclica Evangelium vitae palavras que permanecem de grande actualidade: "Para o bem do futuro da sociedade e do progresso de uma democracia sadia, urge pois redescobrir a existência de valores humanos e morais essenciais e naturais, que derivam da própria verdade do ser humano, e exprimem e tutelam a dignidade da pessoa: valores que nenhum indivíduo, nenhuma maioria e nenhum estado jamais poderá criar, modificar ou destruir, mas apenas os deverá reconhecer, respeitar e promover" (n. 71).

Concluindo, São Tomás propõe-nos um conceito amplo e confiante da razão humana: amplo, porque não está limitado aos espaços da chamada razão empírito-científica, mas aberto a todo o ser e por conseguinte também às questões fundamentais e irrenunciáveis do viver humano; e confiante, porque a razão humana, sobretudo se acolhe as aspirações da fé cristã, é promotora de uma civilização que reconhece a dignidade da pessoa, a intangibilidade dos seus direitos e a improrrogabilidade dos seus deveres. Não surpreende que a doutrina acerca da dignidade da pessoa, fundamental para o reconhecimento da inviolabilidade dos direitos do homem, tenha amadurecido em ambientes de pensamento que recolheram a herança de São Tomás de Aquino, que tinha um conceito extremamente elevado da criatura humana. Definiu-a, com a sua linguagem rigorosamente filosófica, como "aquilo que de mais perfeito se encontra em toda a natureza, ou seja, um sujeito subsistente numa natureza racional" (Summa Theologiae, I a, q. 29, a. 3).

A profundidade do pensamento de São Tomás de Aquino brota – nunca o esqueçamos – da sua fé viva e da sua piedade fervorosa, que expressava em orações inspiradas, como esta em que pede a Deus: "Concedei-me, suplico-vos, uma vontade que vos procure, uma sabedoria que vos encontre, uma vida que vos agrade, uma perseverança que vos espere confiadamente e uma confiança que no final chegue a possuir-vos".

Saudações

Saúdo cordialmente todos os peregrinos lusófonos, em particular os brasileiros da paróquia São Vicente Mártir de Porto Alegre e os irmãos da Misericórdia de Maringá, como também os professores e alunos portugueses do Centro Cultural Sénior de Braga, para todos implorando uma vontade que procure a Deus, uma sabedoria que O encontre, uma vida que Lhe agrade, uma perseverança que por Ele espere e a confiança de chegar a possuí-Lo. São os meus votos e também a minha Bênção!

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Mensagem do Papa para o 45º Dia Mundial das Comunicações Sociais



Verdade, anúncio e autenticidade de vida, na era digital

Queridos irmãos e irmãs!

Por ocasião do XLV Dia Mundial das Comunicações Sociais, desejo partilhar algumas reflexões, motivadas por um fenômeno característico do nosso tempo: a difusão da comunicação através da internet. Vai-se tornando cada vez mais comum a convicção de que, tal como a revolução industrial produziu uma mudança profunda na sociedade através das novidades inseridas no ciclo de produção e na vida dos trabalhadores, também hoje a profunda transformação operada no campo das comunicações guia o fluxo de grandes mudanças culturais e sociais. As novas tecnologias estão a mudar não só o modo de comunicar, mas a própria comunicação em si mesma, podendo-se afirmar que estamos perante uma ampla transformação cultural. Com este modo de difundir informações e conhecimentos, está a nascer uma nova maneira de aprender e pensar, com oportunidades inéditas de estabelecer relações e de construir comunhão.

Aparecem em perspectiva metas até há pouco tempo impensáveis, que nos deixam maravilhados com as possibilidades oferecidas pelos novos meios e, ao mesmo tempo, impõem de modo cada vez mais premente uma reflexão séria acerca do sentido da comunicação na era digital. Isto é particularmente evidente quando nos confrontamos com as extraordinárias potencialidades da internet e a complexidade das suas aplicações. Como qualquer outro fruto do engenho humano, as novas tecnologias da comunicação pedem para ser postas ao serviço do bem integral da pessoa e da humanidade inteira. Usadas sabiamente, podem contribuir para satisfazer o desejo de sentido, verdade e unidade que permanece a aspiração mais profunda do ser humano.

No mundo digital, transmitir informações significa com frequência sempre maior inseri-las numa rede social, onde o conhecimento é partilhado no âmbito de intercâmbios pessoais. A distinção clara entre o produtor e o consumidor da informação aparece relativizada, pretendendo a comunicação ser não só uma troca de dados, mas também e cada vez mais uma partilha. Esta dinâmica contribuiu para uma renovada avaliação da comunicação, considerada primariamente como diálogo, intercâmbio, solidariedade e criação de relações positivas. Por outro lado, isto colide com alguns limites típicos da comunicação digital: a parcialidade da interação, a tendência a comunicar só algumas partes do próprio mundo interior, o risco de cair numa espécie de construção da auto-imagem que pode favorecer o narcisismo.

Sobretudo os jovens estão a viver esta mudança da comunicação, com todas as ansiedades, as contradições e a criatividade própria de quantos se abrem com entusiasmo e curiosidade às novas experiências da vida. O envolvimento cada vez maior no público areópago digital dos chamados social network, leva a estabelecer novas formas de relação interpessoal, influi sobre a percepção de si próprio e por conseguinte, inevitavelmente, coloca a questão não só da justeza do próprio agir, mas também da autenticidade do próprio ser. A presença nestes espaços virtuais pode ser o sinal de uma busca autêntica de encontro pessoal com o outro, se se estiver atento para evitar os seus perigos, como refugiar-se numa espécie de mundo paralelo ou expor-se excessivamente ao mundo virtual. Na busca de partilha, de «amizades», confrontamo-nos com o desafio de ser autênticos, fiéis a si mesmos, sem ceder à ilusão de construir artificialmente o próprio «perfil» público.

As novas tecnologias permitem que as pessoas se encontrem para além dos confins do espaço e das próprias culturas, inaugurando deste modo todo um novo mundo de potenciais amizades. Esta é uma grande oportunidade, mas exige também uma maior atenção e uma tomada de consciência quanto aos possíveis riscos. Quem é o meu «próximo» neste novo mundo? Existe o perigo de estar menos presente a quantos encontramos na nossa vida diária? Existe o risco de estarmos mais distraídos, porque a nossa atenção é fragmentada e absorvida por um mundo «diferente» daquele onde vivemos? Temos tempo para refletir criticamente sobre as nossas opções e alimentar relações humanas que sejam verdadeiramente profundas e duradouras? É importante nunca esquecer que o contato virtual não pode nem deve substituir o contato humano direto com as pessoas, em todos os níveis da nossa vida.

Também na era digital, cada um vê-se confrontado com a necessidade de ser pessoa autêntica e reflexiva. Aliás, as dinâmicas próprias dos social network mostram que uma pessoa acaba sempre envolvida naquilo que comunica. Quando as pessoas trocam informações, estão já a partilhar-se a si mesmas, a sua visão do mundo, as suas esperanças, os seus ideais. Segue-se daqui que existe um estilo cristão de presença também no mundo digital: traduz-se numa forma de comunicação honesta e aberta, responsável e respeitadora do outro. Comunicar o Evangelho através dos novos midia significa não só inserir conteúdos declaradamente religiosos nas plataformas dos diversos meios, mas também testemunhar com coerência, no próprio perfil digital e no modo de comunicar, escolhas, preferências, juízos que sejam profundamente coerentes com o Evangelho, mesmo quando não se fala explicitamente dele. Aliás, também no mundo digital, não pode haver anúncio de uma mensagem sem um testemunho coerente por parte de quem anuncia. Nos novos contextos e com as novas formas de expressão, o cristão é chamado de novo a dar resposta a todo aquele que lhe perguntar a razão da esperança que está nele (cf. 1 Pd 3, 15).

O compromisso por um testemunho do Evangelho na era digital exige que todos estejam particularmente atentos aos aspectos desta mensagem que possam desafiar algumas das lógicas típicas da web. Antes de tudo, devemos estar cientes de que a verdade que procuramos partilhar não extrai o seu valor da sua «popularidade» ou da quantidade de atenção que lhe é dada. Devemos esforçar-nos mais em dá-la conhecer na sua integridade do que em torná-la aceitável, talvez «mitigando-a». Deve tornar-se alimento cotidiano e não atração de um momento. A verdade do Evangelho não é algo que possa ser objeto de consumo ou de fruição superficial, mas dom que requer uma resposta livre. Mesmo se proclamada no espaço virtual da rede, aquela sempre exige ser encarnada no mundo real e dirigida aos rostos concretos dos irmãos e irmãs com quem partilhamos a vida diária. Por isso, permanecem fundamentais as relações humanas diretas na transmissão da fé!

Em todo o caso, quero convidar os cristãos a unirem-se confiadamente e com criatividade consciente e responsável na rede de relações que a era digital tornou possível; e não simplesmente para satisfazer o desejo de estar presente, mas porque esta rede tornou-se parte integrante da vida humana. A web está a contribuir para o desenvolvimento de formas novas e mais complexas de consciência intelectual e espiritual, de certeza compartilhada. Somos chamados a anunciar, neste campo também, a nossa fé: que Cristo é Deus, o Salvador do homem e da história, Aquele em quem todas as coisas alcançam a sua perfeição (cf. Ef 1, 10). A proclamação do Evangelho requer uma forma respeitosa e discreta de comunicação, que estimula o coração e move a consciência; uma forma que recorda o estilo de Jesus ressuscitado quando Se fez companheiro no caminho dos discípulos de Emaús (cf. Lc 24, 13-35), que foram gradualmente conduzidos à compreensão do mistério mediante a sua companhia, o diálogo com eles, o fazer vir ao de cima com delicadeza o que havia no coração deles.

Em última análise, a verdade que é Cristo constitui a resposta plena e autêntica àquele desejo humano de relação, comunhão e sentido que sobressai inclusivamente na participação maciça nos vários social network. Os crentes, testemunhando as suas convicções mais profundas, prestam uma preciosa contribuição para que a web não se torne um instrumento que reduza as pessoas a categorias, que procure manipulá-las emotivamente ou que permita aos poderosos monopolizar a opinião alheia. Pelo contrário, os crentes encorajam todos a manterem vivas as eternas questões do homem, que testemunham o seu desejo de transcendência e o anseio por formas de vida autêntica, digna de ser vivida. Precisamente esta tensão espiritual própria do ser humano é que está por detrás da nossa sede de verdade e comunhão e nos estimula a comunicar com integridade e honestidade.

Convido sobretudo os jovens a fazerem bom uso da sua presença no areópago digital. Renovo-lhes o convite para o encontro comigo na próxima Jornada Mundial da Juventude em Madri, cuja preparação muito deve às vantagens das novas tecnologias. Para os agentes da comunicação, invoco de Deus, por intercessão do Patrono São Francisco de Sales, a capacidade de sempre desempenharem o seu trabalho com grande consciência e escrupulosa profissionalidade, enquanto a todos envio a minha Bênção Apostólica.



Bento XVI propõe que as redes sociais sejam espaços de silêncio e reflexão





VATICANO, 25 Jan. 12 / 07:58 am (ACI/EWTN Noticias) O Papa Bento XVI pediu considerar "com interesse para as várias formas de sítios, aplicações e redes sociais que possam ajudar o homem atual não só a viver momentos de reflexão e de busca verdadeira, mas também a encontrar espaços de silêncio, ocasiões de oração, meditação ou partilha da Palavra de Deus".

O Santo Padre refletiu sobre o papel dos ambientes virtuais em sua mensagem para a 46º Jornada Mundial das Comunicações Sociais, titulado "Silêncio e palavra: Caminho de Evangelização", publicado neste 24 de janeiro dia em que a Igreja celebra a São Francisco de Sales.

Em alusão a redes como Facebook e Twitter, onde os usuários compartilham apenas breves mensagens de máximo 140 caracteres, o Papa explicou que "na sua essencialidade, breves mensagens - muitas vezes limitadas a um só versículo bíblico - podem exprimir pensamentos profundos, se cada um não descuidar o cultivo da sua própria interioridade".

Na mensagem dirigida aos comunicadores, o Santo Padre destaca a importância do silêncio e a palavra, um aspecto que "às vezes fica esquecido, sendo hoje particularmente necessário lembrá-lo".

Estes são dois momentos da comunicação "que se devem equilibrar, alternar e integrar entre si para se obter um diálogo autêntico e uma união profunda entre as pessoas. ".

"Quando palavra e silêncio se excluem mutuamente, a comunicação deteriora-se, porque provoca um certo aturdimento ou, no caso contrário, cria um clima de indiferença; quando, porém se integram reciprocamente, a comunicação ganha valor e significado", acrescenta o Pontífice.

O Papa sublinha também que "o silêncio é parte integrante da comunicação e, sem ele, não há palavras densas de conteúdo. No silêncio, escutamo-nos e conhecemo-nos melhor a nós mesmos, nasce e aprofunda-se o pensamento, compreendemos com maior clareza o que queremos dizer ou aquilo que ouvimos do outro, discernimos como exprimir-nos".

"Por isso, do silêncio, deriva uma comunicação ainda mais exigente, que faz apelo à sensibilidade e àquela capacidade de escuta que frequentemente revela a medida e a natureza dos laços", expressou.

O silêncio também ajuda a discernir e a relações as situações que "à primeira vista, pareciam não ter ligação entre si, a avaliar e analisar as mensagens; e isto faz com que se possam compartilhar opiniões ponderadas e pertinentes, gerando um conhecimento comum autêntico. Por isso é necessário criar um ambiente propício, quase uma espécie de «ecossistema» capaz de equilibrar silêncio, palavra, imagens e sons".

O Papa logo se referiu às perguntas essenciais que se faz toda pessoa sobre sua origem e seu destino, que constituem um convite à reflexão, ao diálogo "e ao silêncio, que às vezes pode ser mais eloquente do que uma resposta apressada, permitindo a quem se interroga descer até ao mais fundo de si mesmo e abrir-se para aquele caminho de resposta que Deus inscreveu no coração do homem".

O silêncio, prossegue o Papa, é o lugar aonde fala Deus ao homem: "se Deus falar com homem também no silêncio, o homem igualmente descobre no silêncio a possibilidade de falar com Deus e de Deus".

"A contemplação silenciosa -continua Bento XVI- nos inunda na fonte do Amor, que nos conduz para nosso próximo, para sentir sua dor e oferecer a luz de Cristo, sua Mensagem de vida, seu dom de amor total que salva".

Depois de recordar que para a pergunta sobre o sentido do homem encontra-se a resposta no mistério de Cristo, do qual nasce a missão da Igreja de evangelizar, o Papa reitera que a palavra e o silêncio são a base para a evangelização.

"Educar-se em comunicação quer dizer aprender a escutar, a contemplar, para além de falar; e isto é particularmente importante paras os agentes da evangelização: silêncio e palavra são ambos elementos essenciais e integrantes da ação comunicativa da Igreja para um renovado anúncio de Jesus Cristo no mundo contemporâneo", conclui.

A Jornada Mundial das Comunicações Sociais será celebrada no próximo 20 de maio. Participaram da apresentação da mensagem o Presidente do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais, Arcebispo Claudio Maria Celli; Dom Paul Tighe, Secretário do mesmo dicastério, Dom Giuseppe Antonio Scotti, Secretário adjunto do mesmo; e o subsecretário o Dr. Angelo Scelzo.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A RENOVAÇÃO CARISMÁTICA: RENOVAÇÃO PROFÉTICA OU NEOCONSERVADORISMO? (Parte 2. FATORES INTERNOS DE TRADIÇÃO)



Salve Maria!
Continuamos agora com a segunda parte do texto escrito pelo teólogo e perito do Vaticano: II René Laurentin. Boa leitura.
Pax et Ignis!

2. FATORES INTERNOS DE TRADIÇÃO

Como esta experiência ecumênica arriscada pode prestar-se hoje ao rótulo “conservadorismo”? Isto depende antes de tudo de um caráter essencial e íntimo deste movimento: ele inspira um retorno não só a Bíblia, mas a Tradição cristã sob suas formas mais variadas. É este um dos fatos que mais me impressionaram nos grupos carismáticos de uma boa dezena de países visitados. Ouvi um dos líderes franceses deste movimento – o padre Monléon – lançar diante de vários auditórios este desafio que jamais foi refutado:

– Citai-me um único valor cristão que não seja vivido e realizado na Renovação: desde a Trindade ao culto dos santos; desde o ecumenismo até o Rosário; desde a festa até o jejum.

Encontramos, é verdade, tudo isto e o resto, nos grupos autênticos da Renovação, cada qual reinventando, do interior, traços variados cujo conjunto não se deixa facilmente catalogar sob a etiqueta tradicionalista ou progressista: gosto pelo apostolado, mas também pelo retiro e mesmo pelo eremitismo; sentido da ação de graças, mas também do pecado; da alegria, mas também da penitência; atrativo pelos sacramentos (em primeiro plano a Eucaristia) mas também por qualquer espécie de devoções particulares. Em suma, uma integralidade sem integrismo, a saber, sem estreiteza nem paixão nem pretensão, pelo menos onde a Renovação é bem vivida, o que acontece mais correntemente, segundo minha experiência.

O cristianismo ressurge assim na sua variedade até o contraste. O que impressiona nas comunidades da renovação é a segurança e a alegria com que cada qual escolhe seu estado de vida: celibato ou casamento. Ouvi um jovem de Ann Arbor confiar com muita simplicidade, por ocasião de uma partilha, após o casamento de um dos jovens de sua comunidade:

– Sinto-me muito feliz pelos dois, mas não me vejo em seu lugar. Para o futuro, vejo-me no lugar do padre que celebrava.

Numerosos casais em crise, às vezes em instância de divórcio, viram reflorescer seu primeiro amor e a força para reconstruir seu lar, acendendo à efusão do Espírito. De modo semelhante padres, em crise de identidade, reencontraram inspiração e frutos no seu ministério. Retiros carismáticos para padres congregaram de modo geral mais de milhares de pessoas, nos Estados Unidos.

Se este ressurgimento da Tradição dá nova vida a quase todas as formas do passado, especialmente as que poderiam parecer ultrapassadas, ou pelo menos perderam seu dinamismo: rosário, devoção aos santos, confissão e direção espiritual etc., não se trata de um arcaísmo ou de um retorno maníaco às formas antigas. Trata-se ao contrário, de uma redescoberta, de uma revivescência, que nasce do interior, por via de atrativo e de criatividade. Para citar um exemplo, as comunidades de tipo monástico que nascem espontaneamente na Renovação, mesmo celibatária, não adotam as regras das comunidades religiosas nascidas há dez séculos. Reinventam a regra de vida do interior. E se recaem as vezes nas regras tradicionais é por convergência e não apropriação. Tal é o caso das “cartas de aliança” elaboradas pelas duas Fraternidades (Brotherhood e Sisterhood celibatárias) de Ann Arbor e pelas comunidades de lares que assumem formas diversamente monásticas na França, em Grenoble, Montepellier (Teofania em Montepellier, Leão de Judá em Cordes, etc.).

Com relação à redescoberta da fé tradicional, o processo se assemelha à experiência dos convertidos vindos de fora do cristianismo. Penso em Marie-Alphonse Ratisbonne, o jovem banqueiro judeu, anti-cristão por tradição de família, que se converteu repentinamente à fé cristã, por uma súbita visão da Virgem Maria que teve em Roma, a 20 de janeiro de 1842:

– Ela nada me disse, mas entendi tudo, resumiu ele.

Ao ser doutrinado, parecia-lhe reconhecer cada uma das verdades que jamais ouvira, correspondendo exatamente à sua expectativa. André Frossard e outros convertidos fizeram a mesma experiência de reminiscência. Encontraram na catequese, teórica ou prática, a própria verdade que pressentiam: ela suscitava sua adesão feliz:

– É exatamente isso. Amem!

Esta experiência da efusão do Espírito comprova que o Novo Testamento e uma autêntica pneumatologia nos ensinam do Espírito Santo. Ele não age no exterior, mas do interior, “fonte de águaviva que jorra para a vida eterna” (Jo 7,37-39). Não é uma infusão de formas estereotipadas, de conhecimentos prontos, mas uma luz que esclarece a verdade objetivamente transmitida pela Revelação, um ela que regenera as formas da prática cristã ou as reinventa na criatividade. É assim que o Espírito Santo suscita homens e grupos, de acordo com suas diversidades históricas, geográficas, culturais e outras. Assim os cristãos são identificados a Cristo, não segundo a identidade, mas segundo uma diversidade de formas e de realizações.

Assim é a experiência do Espírito: Cada vez que ela ressurgiu, dos profetas do Novo Testamento e em nossos dias, suscitou num só movimento um retorno ao que há de mais longínquo no passado da Revelação e um poderoso impulso para o futuro de Deus, da Igreja e do mundo. Segundo o Espírito, a Tradição não se opõe ao progresso. Bem ao contrário: quanto mais se profunda a volta às fontes, mais audaciosamente pode ela repercutir no futuro. Francisco de Assis e Vicente de Paulo ilustram, entre outros, esta verdade.

Sendo o homem o que é, esta feliz aliança se realiza nos limites da fraqueza humana e através das vicissitudes do pecado enraizado neste mundo. Portanto, o absoluto de Deus e do Espírito só abre caminho através das  relatividades humanas.

Três observações ajudam a explicar as tendências ou aparências de conservadorismo de um movimento que apareceu sob o signo da novidade.

1. A conversão carismática atiça a necessidade de instituições fortes e de obediência. O fato se manifesta claramente entre os pentecostalistas clássicos. Um deles, americano, engravatado e bem vestido, confiou-me um dia que o “pastor” de sua comunidade lhe ordenara, meses antes, que cortasse a barba hippie e os cabelos longos. Ele obedeceu e se sentia feliz por este holocausto que havia fortificado seu fervor. Fiquei pensando sobre os motivos de tal decisão, tomada do exterior, pelo líder, em matéria tão gratuita. Fiz uma comparação com as disciplinas orientais que prescrevem aos monges barbas longas e cabelos compridos, em contraste com a cabeça raspada dos monges do Ocidente. A necessidade de regra e de obediência se nutre as vezes de relatividades contrastantes.

2. O neo-pentecostalismo, a saber, a expansão da experiência pentecostalista às igrejas tradicionais (anglicana 1958; luterana 1964; católica 1967), se caracteriza por uma lealdade e fidelidade rigorosas dos carismáticos a suas igrejas. E isto com mais força, quanto mais tradicionais elas forem.

3. Enfim, as comunidades carismáticas evoluem segundo uma lei geral da vida. Qualquer impulso vital cria formas novas. Depois tende a fechar-se e esclerosar-se. Esta é a lei do impulso vital, inclusive religioso, segundo Bergson. A religião aberta tende a evoluir normalmente para a religião fechada em que o impulso reincide e passa a girar em circulo (Cf. Henri Bergson, Lex deux sources de La morale et de La religion, Alcan, Paris 1932).

É assim que um ela pneumatológico autêntico como o da Renovação Carismática, como o de Francisco de Assis e de muitos outros há tempos atrás, pode ser rotulado de tradicional ou até conservador. Assim também, Tertuliano, montanista e cismático, conservou a etiqueta de homem de Tradição.
Continua...

Na terceira parte de A Renovação Carismática: Renovação Profética ou Neoconservadorismo? iremos ver os fatores extrínsecos de conservadorismo.
Aguarde.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O Pedido foi Feito #RetrateseDepJeanWyllys - Mais um Twittaço Vitorioso



Salve Maria!

#RetrateseDepJeanWyllys, mais uma vitória. Já estou ficando "mal acostumado". Se não fosse o FBI ter fechado o site de downloads Megaupload teríamos chegado ao primeiro lugar nos TTs do twitter.
Não irei estender meus comentários sobre o manifesto feito pelos católicos – e de muitos outros – que ficaram indignados com as declarações do deputado do Jean Wyllys (PSOL) dirigidas ao chefe de estado Bento XVI o chamando de “nazista” e “genocida em potencial” – O assunto já havia sido noticiado aqui –, quero apenas deixar registrado que mais uma vez o silêncio foi quebrado, o gigante adormecido esta acordando. Os blogs Deus lo Vult, Dominus Vobiscum e Tiba daCanção Nova já comentaram sobre o assunto.

Por mais de duas horas um dos assuntos mais comentado do twitter era o pedido #RetrateseDepJeanWyllys. O nobre deputado já havia ratificado tudo o que disse sobre o Papa em seu site pessoal, perdeu a chance de se retratar aproveitando que a notícia era falaciosa, pois a fala do Papa havia sido manipulada pelo Reuters, mesmo assim o pedido não foi feito.


Bom até aqui não existe muita novidade, suspeitei desde o princípio. O interessante é que enquanto fazíamos a “pacífica” campanha em defesa do Santo Padre, os discípulos do nobre deputado mandavam mensagens nos acusando de homofóbicos, fanáticos, etc, etc, etc... Coloquemos na balança da justiça então. Criticar um comportamento – veja bem, um comportamento – homossexual seria homofobia e eles querem criminalizar tal ato. Agora, chamar um chefe de estado de nazista e genocida é o que? Será que podemos chamar de cristofobia ou papafobia? Tal ato já é um crime de calúnia e difamação, nem precisa esperar ser criminalizado. Foi um erro enorme o deputado ter dirigido tais ofensas ao Papa Bento XVI, e deve se retrarar.

Continuando. Durante o twittaço foi criada a tag #RetratesePapa que num passe de mágicas chegou ao primeiro lugar e por pouco mais de trinta minutos permaneceu por ali. Isso mesmo, pouco mais de trinta minutos.


Usando a barra de rolagem comecei a ler os comentários e fiquei muito triste e decepcionado. As mais baixas ofensas ao Papa e a Igreja Católica. Os “adjetivos” que foram usados pelo ex-BBB e deputado Jean Wyllys ficaram “no chinelo” perto do que seus discípulos vomitavam. O que mais é difícil de acreditar – mas pode crê – muitos que ali estavam a ofender o Papa e a Igreja de Cristo, devem se dizem “católicos” e comungam todo domingo “sacrilegamente” o Corpo de Cristo na Santa Missa. É uma vergonha. Miserere Domini!

É preciso deixar bem claro que a chegada ao topo da tag dos “discípulos de Jean” também se deve ao grande numero de católicos que invadiram a mesma para defender o Papa, sem se preocupar se iriam perder posições. Isso é coisa de cristão mesmo!

Do mesmo jeito que a tag #RetratesePapa entrou nos TTs também saiu, num passe de mágicas. Os donos da tag que pediam a retratação de Bento XVI – só não sei do que, já que a notícia era uma farsa – saíram rosnando de alegria por terem chegado ao topo. Mas será que foram vitoriosos mesmo?

O site http://ttbr.info/alltrends faz uma lista dos assuntos mais falados do twitter em ordem decrescente, quando vi lá estava a tag #RetratesePapa em 63º lugar nos assuntos mais falados, enquanto o pedido dos católicos e homens de bem #RetrateseDepJeanWyllys em 23º lugar  pena que não fiz o print. A diferença é muito grande. Se existe a necessidade em dizer quem venceu, então temos a resposta.

O mais importante é que os católicos estão acordando, os ataques a Igreja não ficarão mais sem resposta, mesmo sendo ainda uma grande minoria, estamos ao lado do Papa.

Quero deixar registrado aqui a participação de Dom AntônioCarlos Rossi Keller da diocese de Frederico Westphalen que quase quebrou seu mouse de tanto twittar em defesa do Bispo de Roma. A cada mensagem que este Bispo twittava meu coração pegava fogo. Ignis. Não sei se outros Bispos também participaram deste twittaço, mas a presença de Dom Keller foi marcante. Já ao fim da manifestação se podia ler o chamado do Pastor: “vamos continuar, em defesa do Papa e da Igreja de Cristo”. Deus seja louvado por este Sucessor dos Apóstolos.

Louvo o Nosso Senhor também pela participação de tantos padres, seminaristas, leigos e até da Luiza que já chegou do Canadá. Estamos com Bento XVI, estamos com a Igreja Católica Apostólica Romana.

Pax et Ignis!

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

A RENOVAÇÃO CARISMÁTICA: RENOVAÇÃO PROFÉTICA OU NEOCONSERVADORISMO? (Parte 1. A RENOVAÇÃO CARISMÁTICA – UMA INOVAÇÃO)



Salve Maria!
Segue um artigo retirado de uma revista - não lembro o nome agora - escrito pelo doutor em teologia e perito do Vaticano II: René Laurentin. Achei muito edificante. Então vamos nos debruçar neste texto - que é um pouco extenso - parte por parte, tirando algumas conclusões sobre este maravilhoso movimento que é a Renovação Carismática Católica, fruto do 21º Concílio ecumênico da Igreja Católica. O título é fascinante: A Renovação Carismática: Renovação Profética ou Neoconservadorismo? Tire suas conclusões no decorrer deste edificante texto. Boa leitura.
Pax et Ignis!

A RENOVAÇÃO CARISMÁTICA: RENOVAÇÃO PROFÉTICA OU NEOCONSERVADORISMO?

Por René Laurentin

O fato de um artigo sobre a Renovação carismática católica figurar num fascículo sobre o Neoconservadorismo corre o risco de falsear, desde o começo, tudo que se dirá, pelo menos nos meios e países em que o conservadorismo tem uma conotação pejorativa. Urge, pois exorcizar, antes de mais nada, o que este termo possa conter de mítico e de passional.
Conservar é uma função essencial à vida. A ecologia (cujo prestigio passou à frente do prestígio do progresso, desde o começo da década de 70) é conservação da natureza. A fé cristã, transmissão fiel de uma revelação consumada, no essencial, uma vez por todas, também depende de uma conservação vital e de uma ecologia espiritual. Considerar toda preocupação de conservação como conservadorismo, atraso ou desvio é sinal de um maniqueísmo ingênuo. Se o verdadeiro problema consiste nisto: Que devemos conservar? Como conservar sem esclerosar o que é essencial a vida? Como aliar esta conservação ao progresso e à evolução inerente à historicidade humana? O estudo da renovação carismática ilustra de modo bem atual este problema.

1. A RENOVAÇÃO CARISMÁTICA – UMA INOVAÇÃO

A renovação carismática é antes de tudo fruto de uma inovação audaciosa. Na verdade este movimento católico deve sua inspiração inicial (o batismo no Espírito e os carismas) a meios protestantes, mais especialmente a este movimento entusiasta – de formas as vezes sectárias – que é o Pentecostalismo.
Foi em janeiro de 1967, em Pittsburgo. Os quatro primeiros católicos “batizados no Espírito” não eram considerados conservadores nem formalistas. Homens à procura, haviam vibrado com a onda critica levantada nos Estados Unidos por João XXIII. Haviam tirado do Vaticano II a conclusão de que deviam “engajar-se”. Mas seus esforços de ação social, mesmo política não haviam ficado, mas diluído a sua fé. Sentiam a necessidade de encontrar uma fonte (Jo 7.37-39; cf. 4,14). Foi então que se propuseram a ler o livro de David Wilkerson. Este pastor havia encontrado na efusão do Espírito um impulso profundo que o arrancou de uma vida paroquial bem instalada, para um apostolado perigoso e frutuoso entre o bando de gatunos de Nova Iorque. Esses quatro católicos não ousariam pedir sua iniciação a pentecostalistas. Encontraram-na entre os episcopalistas carismáticos, bem próximos do catolicismo, mas que haviam acolhido o aclimato a experiência “pentecostalista”.  Surgiu, assim, em 20 de janeiro de 1967, pela oração e pela imposição das mãos sobre os dois primeiros fundadores, o que foi chamado desde o início  Pentecostalismo católico: uma conversão, uma libertação de forças vivas, um repentino florescimento de carismas esquecidos na Igreja católica, a começar pelo carisma de falar em línguas, característicos do Pentecostalismo, como também o profetismo (no sentido de palavras inspiradas, ditas em nome de Deus), o dom das curas, etc.
Tudo isto era inovação audaciosa e sentido como tal. Quando se manifestaram em Notre Dame (Indiana, EUA) as primeiras glossolalias, em fevereiro de 1967, um velho missionário, conhecedor do proselitismo de certos grupos pentecostalistas anti-católicos, perguntou sentenciosamente:
– Quando ireis abandonar a Igreja?
Os que foram atingidos por este arrebatamento não experimentaram nenhuma desafeição, pelo contrário. Mas a audácia deste ecumenismo e deste empréstimo, a novidade insólita, e provocante do batismo no Espírito (seria um outro batismo?), os carismas (principalmente o falar em línguas e essas palavras dirigidas por um simples fiel em nome de Deus a toda a assembléia), a livre improvisação da oração, impressionavam e até chocavam.
Todos os movimentos do Espírito surpreendem e escandalizam desde os tempos dos Atos dos Apóstolos (2,13; 26,24), em que a Igreja de Pentecostes foi correntemente designada Heiresis, com a dupla nuance de heresia e seita (At 24,14; 28,22). Parecia aberrante ver simples leigos exercerem o carisma de “libertação”, como se usurpassem as funções dos exorcistas. De modo mais geral se manifestavam como subversivas a liderança dos leigos neste movimento e a autoridade de seus carismas. Parecia aberrante que um bispo, ou mesmo cardeal, aderindo do interior a este movimento, deixasse que mulheres e não-católicos lhe impusessem as mãos. Os “pentecostalistas católicos” respondiam em vão que este gesto, polivalente desde a origem, não tinha alcance e nem pretensão sacramental; que era uma inovação dirigida à serena liberdade do Espírito a fim de viver a graça do batismo conferida uma vez por todas. Os reflexos católicos diante destas novidades insólitas se assemelhavam aos da galinha que chocou patinhos.
Aos episcopado americano – país em que nasceu este movimento – coube a honra de discernir que havia nele, apesar das preensões (e de ambigüidades ou excessos inevitáveis), um movimento do “Espírito” autenticamente católico, no sentido em que esta palavra significa a universalidade e não um particularismo. Mas, dez anos antes esse movimento teria sido rejeitado, sem hesitação nem apelo.
Continua...

Na segunda parte de "A Renovação Carismática: Renovação Profética ou Neoconservadorismo?" iremos ver os fatores internos de Tradição.
Aguarde.